quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
sábado, 5 de dezembro de 2009
Close to Paradise with PW
I was hiding underneath the sea,
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
terça-feira, 24 de novembro de 2009
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
terça-feira, 3 de novembro de 2009
there's a little bit of me inside you
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Faz hoje 3 anos que tenho em casa um gatinho
Tenho em casa um gatinho
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
domingo, 18 de outubro de 2009
Joan as Police Woman
No ano passado, o único registo fotográfico possível (péssimo, diga-se) foi depois do concerto:
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Fireflies in the Garden
And here on earth come emulating flies,
That though they never equal stars in size,
(And they were never really stars at heart)
Achieve at times a very star-like start.
Only, of course, they can't sustain the part.
Robert Frost
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Sobre este blog:
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Kings of Convenience, em Portugal
.: 2 de Novembro - Theatro Circo de Braga
.: 4 de Novembro - Coliseu de Lisboa
Foto de Cristina Pinto Pinto
E ainda:
Foge Foge Bandido
.: 4 de Setembro - Centro Cultural de Ílhavo
Au Revoir Simone
.: 3 de Outubro - Casa da Música
.: 5 de Outubro - Aula Magna
Diana Krall
.: 10 de Outubro - Campo Pequeno
.: 11 de Outubro - Pavilhão Rosa Mota
Joan as Police Woman
.: 15 de Outubro - Lux
.: 16 de Outubro - Centro Cultural de Redondo
.: 17 de Outubro - Casa da Música
Emiliana Torrini
.: 31 de Outubro - Centro Cultural Vila Flor (Guimarães)
Lisa Ekdahl
.: 3o de Novembro - Aula Magna
.: 1 de Dezembro - Casa da Música
Franz Ferdinand
.: 2 de Dezembro - Campo Pequeno
Nouvelle Vague
.: 3 de Dezembro - Aula Magna
.: 5 de Dezembro - Teatro Sá da Bandeira
Editors
.: 10 de Dezembro - Campo Pequeno
Arctic Monkeys
.: 2 de Fevereiro - Coliseu do Porto
.: 3 de Fevereiro - Campo Pequeno
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Take this sinking boat and point it home
Once é um filme de John Carney (*), simples, curto, musicado (e musical), mas não menos bonito, que nos faz recordar aquelas pessoas que, naquele dia mais-que-normal-de-dor-rotineira-e-melancólica-de-coração-partido, entram sem bater à porta e tão espontaneamente nos apaixonam - estimulam para a avidez calma do mundo que, sem darmos conta, ganhou o brilho da companhia de nascer do sol - e, no que parece ser tão precocemente, partem, não deixando, contudo, de encaminhar a própria vida a um novo rumo, pela sua fugaz mas significante presença.
(*) protagonizado por Glen Hansard e Markéta Irglová, também eles os compositores e intérpretes das músicas que constituem o filme
domingo, 9 de agosto de 2009
sábado, 1 de agosto de 2009
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Fresquinha, fresquinha:
O single, Mrs Cold:
terça-feira, 21 de julho de 2009
terça-feira, 7 de julho de 2009
Sweet like candy to my soul
Why I am still here dancing with the Groogrux King,
we'll be drinking big whiskey while we dance and sing.
And when my story ends it's gonna end with him:
Heaven or hell I'm going there with the Groogrux King.
All at once the ghosts come back
reeling in you now.
What if they came down crushing?
Remember when I used to play for
all of the loneliness that nobody
notices now?
vai ser assim, no sábado, e vais er muito bom (:
segunda-feira, 29 de junho de 2009
quarta-feira, 3 de junho de 2009
domingo, 17 de maio de 2009
domingo, 10 de maio de 2009
sábado, 25 de abril de 2009
sabedoria de criança
- hoje em dia, o mundo gira às voltas sem parar!...
segunda-feira, 20 de abril de 2009
[fol&ar]
terça-feira, 14 de abril de 2009
domingo, 5 de abril de 2009
Corpo, alegria, partilha
Já ia a lua alta na noite e todas as estrelas de Primavera brihavam no céu, quando, de repente... o corpo embateu com outro corpo! Daquele embate nasceu outro, outro e outro, e em crescentes harmonia e cumplicidade, os corpos abraçaram-se numa dança colorida e quente.
Com o amanhecer, plenos de tanto dançar, os corpos acabaram rindo - e da dança nasceu a alegria!
Moral da pequena estória: a alegria só é encontrada quando partilhada.
Escrito no workshop de Dança Movimento Terapia, orientado por Elisabete Bompastor
domingo, 8 de março de 2009
Doçura
Anita vende, pois, a doçura que tem no olhar e a doçura que embala nos frascos de vidro. É isso o que faz, sentada no passeio defronte do Mercado Sucupira, pelo menos desde que desistiu de escrever poemas.
Na escola, a professora de Anita não se cansava de lhe gabar a delicadeza das composições que escrevia. A mestra ordenava às crianças que escrevessem uma composição sobre isto ou aquilo, sobre a Primavera ou sobre o ilhéu defronte da baía da Gamboa, e o que Anita fazia era sempre igual: escrevia no topo da folha pautada a palavra Composição com essa mesma letra indecisa e pequena que hoje lhe serve para escrever Doçura nas etiquetas dos frascos de doce – e depois deixava que a cabeça a levasse para longe, para o mundo impalpável das coisas que estão escritas nas páginas dos livros. Escrevia sobre bosques impenetráveis e montanhas verdejantes, sobre belos guerreiros medievais e cidades de prédios muito altos, ainda que não houvesse na ilha nenhuma das coisas que descrevia e, por isso, ela nunca tivesse visto bosque algum, nenhuma paisagem alpina ou um príncipe que fosse. E um dia, mais do que gabar-lhe a composição e afagar-lhe a carapinha, a professora disse
- Um dia ainda vais ser poeta, Anita.
E Anita conseguiu imaginar que era poeta, que escrevia livros iguais aos que gostava de ler à noite, quando a luz faltava na Praia e a cidade voltava a ser um sítio apenas iluminado por candeias e velas. Cresceu, por isso, julgando que, um dia, escreveria poemas e frases bonitas sobre a sua ilha e que as crianças das outras partes do mundo leriam o que escrevesse e sonhariam com a baía morna onde, às vezes, a lua cheia vem namorar o mar – do mesmo modo que eu, estando longe, vejo Anita sem sequer a ver. Estou num sítio ao Norte do mundo, no Inverno, longe do mar, num prédio alto e cinzento, igual aos que Anita imagina quando tem que escrever uma composição sobre A Cidade. Não vejo, de onde estou, o Mercado Sucupira, nem essa Avenida de Lisboa em cujo passeio Anita se senta para vender a Doçura. Nesta janela, tendo defronte apenas as janelas gémeas de um prédio igual, encosto a face ao vidro da varanda e adivinho o frio que faz lá fora (todo o frio me parece muito desde o dia perverso em que o Verão termina). Invento o frio e encolho ainda mais dentro do corpo. É aqui, porém, que, encostado ao vidro que me separa do Inverno, espero que venha o raio morno que o sol derrama quando se eleva acima da massa sombria dos prédios da cidade. Então, e por um instante, fecho os olhos, esqueço o Inverno e imagino que ainda é Verão, que a cidade lá fora é a Praia e que Anita está sentada no passeio a vender Doçura desde o dia em que soube que não seria poeta.
Eu sei bem o que sente Anita quando se lembra que não será poeta. Sei-o porque houve um tempo em que tentaram convencer-me, entre outras falsidades, que alguns dos textos que escrevia possuíam qualidades que os aproximavam da poesia. Estavam escritos em prosa, como as composições de Anita, e tinham sido pensados para serem prosa e não mais do que vagos sonhos sobre a possibilidade dos mundos imaginários. Diziam-me, porém, que havia nesses textos algo que os remetia para a delicada e paciente relojoaria do verso. Talvez por isso, certa tarde, à falta de outros afazeres que me mantivessem ocupado, dediquei-me a fragmentar as frases desses textos e a tentar construir versos a partir delas. Mostrei o resultado a amigos, os quais se mostraram condescendentes, ora considerando que sim, aquilo era poesia, ora notando a existência de alguns “bonitos textos” naquele emaranhado confuso de versos, e de um ou outro poema razoável.
Respeitando o trabalho dos poetas e aceitando como plausível que esse é um domínio ao qual só se acede por uma espécie de epifania (algo como uma invisível picada de abelha, à qual eu fosse miseravelmente imune), fui mantendo os “versos” na gaveta, talvez à espera que o tempo passando hes conferisse algum interesse, nem que fosse no sentido arqueológico do termo. Hoje, porém, estou convencido de que o esquecimento é o melhor destino que lhes posso dar, aos meus tristes e trôpegos poemas. Um último leitor, pessoa especialmente íntima do fenómeno poético, forneceu-me o argumento definitivo. Disse-me: “Se não te conhecesse e lesse estes poemas, aconselhava-te a escrever prosa”. É o que faço – mas preferia vender, como Anita, a doçura que ainda me reste nos olhos.
Escrevo prosa, portanto, e faço-o talvez porque isto me permite ser um pouco poeta; algo como um poeta sem talento para escrever versos. Sei apenas, quanto muito, imaginar e sonhar. E escrever composições que imagino semelhantes às que Anita redigia na escola, que falam de mundos que eu não conheço, mas que invento a partir das paisagens que existem nas imagens e nos livros. Esta tarde estou escrevendo sobre Anita. Ontem escrevi sobre uma negra bonita e nua que segurava uma lança e estava parada perscrutando o horizonte:
Se na estepe, ao longe, não me vês ainda – estou a chegar. Sigo diante dos leões e das impalas, das palancas e dos bisontes, das zebras e dos leopardos; vou à cabeça da caravana dos animais que hão-de ir ajoelhar-se à tua volta, senhora nossa, deusa deste chão. Levamos uma nuvem de pó no nosso encalço – hás-de avistá-la ao longe, é a flâmula que por ti erguemos com o vigor dos nossos pés. Levo as pinturas de guerra no corpo nu, a lança de caçar os pequenos roedores do deserto e o colar de contas que não me deste ainda. Espera. Sou teu.
Isto é o que posso imaginar (e escrever) com os olhos de alguém que não sabe ser poeta e cuja doçura coalhou. À casa da minha poesia, tal como à doçura que um dia tive, imagino-as como uma quinta desleixada e rodeada por uma cerca de arame farpado, encerrada e silenciosa. Talvez a canalha venha e salte a vedação para roubar a fruta das árvores. É possível que apareça algum gado tresmalhado e confuso pela força do hábito e aí fique marrando contra as porteiras fechadas, tentando abrir caminho para os pastos verdes que já não há. Se se escutar o latido dos cães, está tudo bem — eles sempre ladram sem ser por nada. O caseiro da quinta da minha poesia não foi de férias ainda, mas andou esta manhã a pôr ordem nas coisas. Certificou-se de que a cerca está inteira e de que amanhã virá um novo dia e depois outro e mais outro. Fechou-se e mandou recado à venda a avisar que não vai a lado nenhum. Está lá dentro, em pousio, fugindo do ruído do mundo e lembrando-se do cheiro que tem a erva acabada de cortar. Ou seja: sou um prisioneiro solitário da poesia que não faço.
Prefiro, a verdade é essa, o modo que Anita tem de não ser poeta. Ora a invejo, ora me enterneço com a doçura que guarda e com o modo que tem de a entregar ao mundo, ali sentada no passeio escalavrado da Avenida de Lisboa: agita uma revista velha diante do peito para se refrescar e põe a mão em pala diante dos olhos (para que o sol não derreta o açúcar que neles há). As outras pessoas passam e vêem Anita vendendo a Doçura em frascos. Muitas param para comprar: uns levam apenas a compota, outros vêm pela imensa doçura que há nos olhos da menina-moça, pelo sorriso imenso que o rosto dela desenha.
Eu, que não vejo Anita, vejo claramente o riso dela, o lenço branco que Anita tem enrolado na cabeça, a camisa cor-de-rosa, as argolas douradas que tem nas orelhas, a saia de chita, o chinelo de plástico que abriga os pés dela. Imagino até que, às vezes, Anita lance no ar um pregão tímido
- Nha leba doçura pa casa
que o barulho do trânsito o abafa. Que, quando regressar a casa depois de ter vendido todos os frascos, Anita levará o dinheiro apertado na mão, firmemente, feliz por ter vendido toda a compota – e triste por não ter podido ser poeta. Vai caminhando de cabeça erguida, devagar, como se o seu andar fosse uma pausa entre a ida veloz dos passos de uns e a vinda apressada dos passos dos outros. Não escuta os piropos dos rapazes, não ouve o barulho da cidade: vai inventando poemas que não escreverá jamais, pois cedo a mãe lhe explicou que
- Não é poeta quem quer, é poeta quem a vida deixa. Poesia de pobre é comida na mesa para encher barriga.
Quando a noite vem e não há luz na Praia, quando o zumbido das coisas eléctricas cessa e se pode escutar o murmúrio da terra e os sussurros da vizinhança, Anita debruça-se na janela da casa e fica a contemplar o corisco breve das estrelas. Imagina poemas que não escreve e inventa paisagens nevadas, belos príncipes crioulos montados em alazões, cidades de altíssimos prédios onde todos se conhecem pelo nome próprio e se cumprimentam à tardinha quando regressam a casa – tudo pode ser visto nas estrelas diante da janela do quarto de Anita.
Quando aí está, esperando que os pontos luminosos da noite se ordenem e inventem mundos, Anita pensa que ainda é poeta, que são poemas as frases com que imagina príncipes crioulos e cidades imensas de vidro e aço. Sonha os livros que escreveria se não fosse menina pobre e a vida tivesse permitido que o vaticínio da velha mestra se concretizasse.
(-Um dia ainda vais ser poeta, Anita)
Às vezes, pensando nisto, Anita ainda se entristece. Olhando-a a partir da minha janela do país onde é quase sempre Inverno, vejo que as estrelas se lhe reflectem no orvalho dos olhos. Vejo isto e enterneço-me. Daqui longe fecho os meus olhos e sussurro bem baixinho a única verdade que existe – para que ela a oiça: que não há no mundo todo maior poema do que vê-la, sentada no passeio, a vender a Doçura que tem nos frascos. E nos olhos.
[Manuel Jorge Marmelo]