sábado, 24 de junho de 2006

Sabes, odeio o tempo.
...
Ele pega em nós ao colo, agarra-nos com força, e prende-nos à passadeira rolante, para que não possamos voltar atrás, nem recuperar o perdido ou nunca existido.
E, ainda por cima, brinca connosco, sim. Quando menos esperamos, zás! - vem ele e abre-nos o livro de memórias, bem à frente do nosso nariz, para que nenhum pormenos nos escape; e, ainda chega a ter o atrevimento de ligar a telefonia e deixar entrar o o toque fofo dos bolinhos da avó, acabados de sair do quentinho... ou o cheiro fresco daquela manhã azul e clara de um momento doce de uma vida a dois...
Somos marionetas presas nos dedos esguios mas forte do tempo. Se olhares com atenção, distingues nelas, nas suas mãos, as rugas de cada memória que aprisionou. Tem, por isso, as mãos calejadas, mas não menos fortes. Será isto a sabedoria?... experiência, sim. Maldade?... condição, limite.


Mão à cabeça, para esfregar o sítio onde doía. "André Topa-Tudo no País dos Gigantes", havia decidido saltar da prateleira sobre a minha cabeceira e fazer um cumprimento às minhas memórias....
Dizia assim na primeira página:

Comprado na linda
Livraria Lello, Porto,
em 10/Fev./98
Para a querida Maria João:
que o gosto pela leitura continue
a povoar os seus sonhos, a en-
riquecer o seu espírito, a
moldar a sua imaginação...
Um beijinho
Mãe
Sem dar conta, reportei-me para esse dia... Tinha adoecido e a minha mãe, lembrando-se da minha tristeza durante a sua ida ao Porto em visita de estudo, trouxe-me uma companhia. A melhor, talvez, ou aquela à qual dei mais valor - um livro.
Com essa vieram outras recordações de infância... e, atrás disso, um sentimento de nostalgia e evanescência. Senti-me crescida e afastada da felicidade ingénua e doce, que tão bem pauta o meu estádio petiz; pior que isso, senti que o tempo flui como a areia da praia que tentamos agarrar para por no bolso. Quanto mais apertamos, mais depressa ele escapa...
Naquela noite, quis ser criança de novo... poder correr, cair, rasgar o vestido, arranhar os joelhos, sem qualquer recriminação ou castigo...
A partir daquela noite, desejei não crescer mais - e foi ali que o tempo começou célere.

sábado, 3 de junho de 2006



O meu gato come chocolate.
E sorri... porque eu consigo acreditar em coisas impossíveis (nem tenho gato, nem muitos menos os gatos comem chocolates. Sorrir, sorriem, tenho a certeza!).
Sempre que desejo e esperanceio, o meu gato come chocolates. É muito guloso, o meu gato - sou uma incontrolável sonhadora.
Por vezes, o meu gato leva banhos de água fria, por comer muito chocolate. Mas, também, há dias em que ao comer chocolate, o meu gato consegue um lugar ao sol e aí se deixa a ronronar.
De que cor é o meu gato que come chocolate?... É roxo. Ah, e às vezes tem risquinhas verdes e bolinhas laranja... mas é só quando está ao sol.