quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Não, Ana Alice, tira a mãozinha da cara, não digas que tens medo. Olha pela janela com os teus olhinhos puros, vê como o mundo corre nas suas cores transeuntes, vê como o tempo passa, as pessoas (sobre)vivem... Pergunta quem sou, diz-me que sou feia e faz-me apaixonar mais por ti. Isso, cola as penas brancas nas asinhas de cartão, sê o anjo que o teu sorriso deixa adivinhar, e voa, menina, voa!... Sim, Ana Alice, senta-te no meu colo, deixa-me segurar e acariciar as tuas mãos, enquanto ouves a história, e dar-te beijinhos nas costas que não dês conta.

felizes natais, Ana Alice, e uma boa vida para ti


"Arte Poética V
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Na minha infância, antes de saber ler, ouvi recitar e aprendi de cor um antigo poema tradicional português, chamado Nau Catrineta. Tive assim a sorte de começar pela tradição oral, a sorte de conhecer o poema antes de conhecer a literatura.
Eu era de facto tão nova que nem sabia que os poemas eram escritos por pessoas, mas julgava que eram consubstanciais ao universo, que eram a respiração das coisas, o nome deste mundo dito por ele próprio.
Pensava também que se conseguisse ficar completamente imóvel e muda em certos lugares mágicos do jardim, eu conseguiria ouvir um desses poemas que o próprio ar continha em si.
No fundo, toda a minha vida tentei escrever esse poema imanente. E aqueles momentos de silêncio no fundo do jardim ensinaram-me, muito tempo mais tarde que não há poesia em silêncio, sem que se tenha criado o vazio e a despersonalização.
Um dia em Epidauro - aproveitando o sossego deixado pelo horário do almoço dos turistas - coloquei-me no centro do teatro e disse em voz alta o princípio de um poema. E ouvi, no instante seguinte, lá no alto, a minha própria voz, livre, desligada de mimTempos depois, escrevi estes três versos:
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A voz sobe os últimos degraus
Oiço a palavra alada impessoal
Que reconheço por não ser já minha.
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Sophia de Mello Breyner Andresen
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A culpa é do Natal que me fez mexer de novo nessas fotografias. Por recordarmos de novo, quer dizer que nos havíamos esquecido? Como é possível ter eu deslembrado a admiração por esse senhora, cujas palavras enchem, numa plenitude realista?...
Hoje, então, a esta senhora, que me trouxe à memória a magia de Epidauro e o velho sonho de... escrever.

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Nova(s) palavra(s):




(animagético,) inimagético .
Loucura - alucinação silenciosa e inimagética.
Inimiga de imagens.

domingo, 10 de dezembro de 2006

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

todo o amor do mundo não foi suficiente porque o amor não serve de nada. ficaram só
os papéis e a tristeza, ficou só a amargura e a cinza dos cigarros e da morte.
os domingos e as noites que passámos a fazer planos não foram suficientes e foram
demasiados porque hoje são como sangue no teu rosto, são como lágrimas.
sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em cada instante, cada hora,
não irei negar isso.
(...)

_josé luís peixoto
.:por A Naifa:.


(foi nesta que tive de por a mão no cantinho do olho)



foto tirada do blog: http://anaifa.blogspot.com/

terça-feira, 28 de novembro de 2006

Entro em casa. Tranco-me no quarto. Apago a luz. Deito-me. Fecho os olhos. Penso em ti. Desespero. Enervame-me o pisca-pisca intervalado do computador com sessão suspendida. Sinto a tua falta. Angustio.
E ali percebo: tenho o coração suspenso e a alma intermitente.
Preciso de ser reiniciada.






(o meu gato tem vontade de permanecer passivo-invisível. ninguém vem miar a este telhado...)

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Percorro este caminho, que à rotina se abraçou. E, ali mesmo, após a passadeira, escorrego num alçapão da memória, que me transporta até há uns mais de dez anos atrás.
Segura-me a mão um adulto e tudo me parece gigantesco: talvez pela dominância do verde em matizes, no relvado, à direita, na sebe alta, à esquerda; ou, ainda, pelos candeeiros, cujas bolas parecem suspensas, destacando-se de todo o elemento natural. Porque a minha altura é pouco maior do que os arbustos que separam o passeio do pequeno relvado, pela imensidão do céu que vislumbro, quando ergo a cabeça para respirar um pouco mais, pela pressa que dá corda aos meus pés, sinto-me pequena… Sinto-me pequena, mas continuo a caminhar, segura pela força da mão que os meus passos conduz.
Hoje, percorro este troço de caminho – o mesmo verde dominante, os mesmos candeeiros flutuantes, as mesmas árvores, maiores, agora.Curioso como, mais de dez anos depois e sem a mão da minha mãe e segurar a minha, invadida por um vazio interior tão presente, o mesmo passeio para a universidade continua a fazer-me sentir pequenina. Uma pequenez diferente, é certo – pequenez de quem pousa o olhar deambulante no manto retalhado de folhas amarelecidas pelo Outono, caídas no verde sujo da relva, e nelas se revê espelhada. Assim, partida, desfragmentada, caída de uns alicerces outrora fortes...
Assim deposta nua, fraca, desenraízada… Assim: quebrada.
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(A fotografia é do meu Amigo Adriano: whywhatBlog , whywhatDeviantArt.
.:A ti, Adriano, agradeço-te por teres cedido e autorizado uma das tuas bonitas imagens, para a ilustração do meu texto. Agradeço-te por muito mais, mas isso habitará sempre no abraço bom. [*] )

domingo, 19 de novembro de 2006

(parte de) "Uma visita guiada"



''Dentro de nós há o mesmo problema do ou ou e, mas acho que é ao contrário. Às vezes gostávamos que as coisas cá dentro fossem ou brancas ou pretas e os sentimentos estivessem, no coração, separados segundo as suas cores em gavetas diferentes. A vida seria muito mais simples. O problema é que, no coração, vem tudo misturado e cheio de es. Há coisas que parecem boas e são más enquanto que outras parecem más e são boas. Uma pessoa, se não tem cuidado, engana-se.

(...)

Não sei de onde vem toda esta agitação que nos atacou o coração e nos deixa como baratas tontas sempre à procura da metade que não temos e do sítio onde não estamos. Há quem diga que é feitiço. Acho que, antes de nascermos, alguém nos segredou baixinho que é possível sermos totalmente felizes. E acho que este segredo bom é culpa de não nos contentarmos nunca com o que já alcançámos e queremos sempre mais. Na maternidade começamos uma viagem, que ninguém mais pode fazer por nós, à procura duma praia que sabemos existir - embora só às vezes oiçamos ao longe o som das suas ondas - e se chama felicidade."



[O Príncipe e a Lavadeira - Nuno Tovar de Lemos, s.j.]

(Um livro descoberto em momentos bonitos, marcados pelo olhinho de estrelas e o coração quentinho. Daqueles que é sempre bom (re)ler, em dias frios e vazios - (re)lembrando-O e a Sua presença.)

domingo, 5 de novembro de 2006


Vêem, eu disse que é roxo, que sorri, e que come chocolates!... O que é que acham que ele está a fazer agora?









É o Oliver, o meu sonho concretizado.


quinta-feira, 2 de novembro de 2006

estou preenchida de ausências.



(o Meu Novo E Para Sempre Amor, que é o meu gatinho (Oliver!), está cá e aquece o meu coraçãozinho e alminha inquietos, mas não substitui ninguém... eu amo o meu gato., já disse?)

sábado, 28 de outubro de 2006

Este é o Oliver (ou Enzo - a escolha é difícil!) e é a concretização de um sonho:


O meu gato come mesmo chocolates. E faz ronrom.

domingo, 22 de outubro de 2006

"Volto a pensar em ti.
E por um momento, por motivo nenhum, tenho esperança. Acredito: estaremos juntos. Um dia, qualquer dia.

(...)
Não tenho coragem de o encarar mas sei que olha em frente: vendo nada. Imagino que recordará: a sua colecção de momentos e sensações, uma compilação de felicidades, o seu best of. Talvez passe a viver do passado, no passado; reproduzindo na sua mente a cassete que agora compila, ordena, perfeiçoa. Play; replay. Por um momento, desvio o olhar e espreito as suas mãos, pousadas sobre as pernas. (...) mãos repletas de vida: como se as experiências e as sensações aí se fossem acumulando, camada após camada; como se lentamente tudo se fosse dirigindo e concentrando nas mãos; como se aí residisse o fulcro do que é a vida, foi a vida. A mão que diz ao cérebro: o que eu sinto tu não saboreias.

(...)

Por vezes, também penso que é suficiente amar-te, que a concretização (ou até a correspondência) desse amor apenas corromperia a perfeição do sentimento que me une a ti. Por vezes, penso: amar é ma forma de ser amado.
E consigo suportar o teu silêncio. Por vezes.

A esperança é o mais inconsequente e fútil dos sentimentos; ou o mais abnegado e sublime?
Diz-me tu."


[Paulo Kellerman, 'Gastar Palavras -estórias-']



sábado, 7 de outubro de 2006

hoje vi o mundo desfocado.

as pessoas como espectros difusos, dissolvidas em sombras, almas deambulantes sem rosto ou forma concreta, nem meros obstáculos a contornar, não pisar, não esbarrar, por ser apenas eu -eu corpo inquietado, emocinal, confuso, eu rosto cinzento, carregado, distante e presente, eu egoísta. e as pessoas somente geradores de ruído, presença-ausência ignorada, desprezada; as pessoas fantasmas, matéria ocupante, pedras animizadas...
até mesmo o sol incomodou, a claridade, o calor... as cores, as texturas, os sabores... e o barulho das pessoas, a seu estar sem raiz, a sua passagem constante, e o barulho,

o barulho!...


Shh!...



o barulho.



Desfocou.

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

(O meu gato anda a evitar chocolates. Está de dieta.)

terça-feira, 12 de setembro de 2006

Há dias em que não quero olhar o mundo: entristece, repugna, revolta.
Há dias em que não ponho os óculos ou as lentes de contacto. São os dias em que não quero ver: deprime, enoja, enraivece.
Nos dias em que não olho porque não ponho os óculos ou as lentes para não ver, sou cinzenta e desligada e pequena e suja e fraca e enterrada... e... vazia. Penso que assim sou (mais) invisível, (mais) despercebida, (mais) menos daqui - é aliviante não pertencer a isto; é pesado ser tão leve de tão oca.
Há dias em que não olho porque não ponho os óculos ou as lentes para não ver:
Não sinto.
Não sonho.
Não sou...

domingo, 20 de agosto de 2006


"08h53
Por vezes, julgo-me especial. Penso: sou especial. E acredito.
Nada de extraordinário, essa especialidade. É apenas uma consciência não muito racional que por vezes vem e se insinua,
murmura junto ao ouvido: tens, em ti, lá dentro, lá fundo, algo para dar. Algo que até pode ser muito. Mas algo, para oferecer. Quero dar, sinto que posso dar. Nem sei o quê, na verdade não importa muito. Poderá ser apenas companhia ou compreensão ou carinho ou amor. Mas quero tanto dar. Provocar sorrisos. Ou até recolher lágrimas (as lágrimas são sempre pedaços de alma, provas de libertação, de entrega, de confiança; rastos de amor. Gostaria de andar pelo mundo e provocar choro; então, recolheria as lágrimas, e com elas formaria um oceano, um novo oceano. E esse ocenao, contituído por pedacitos das almas de todos os homens, formaria uma alma gigantesca, que seria a alma do mundo; que seria, em simultâneo, de todos e todos.)
É isso que penso, que desejo: apetece-me dar; e sinto que posso. Depois, olho em redor, pergunto-me: mas quem receberá? (Novamente: uma cortina.) Muitas vezes, sinto-me pateta: como se fosse um daqueles loucos que percorrem as ruas das cidades com tabuletas penduradas ao peito, anunciando o fim do mundo; a minha tabuleta diria: dá-se amor. E andaria pelas cidades, exibindo-a, esfregando-a nos olhos de quem passasse. Para nada; porque ninguém diria: dá-me amor, que eu preciso.
E então, penso: não, não sou especial. E acredito."



[Paulo Kellerman, 'Gastar Palavras -estórias-']

domingo, 16 de julho de 2006







Aprisionei as palavras numa gota.
Quando ela cair, se cair...
..................................... não sei.

Dará de beber a um grito mudo?

segunda-feira, 10 de julho de 2006

" (...)
01h13
Custa-me falar. Custa-me dizer palavras que não conduzam a lado nenhum, que não iriginem intimidade, que não toquem. E por vezes, penso: vou gastando as minhas palavras, assim, desapaixonadamente, desinteressadamente; e quando precisar mesmo delas - ainda acredito que esse dia chegará -, descobrirei que se me acabaram; procurarei dentro de mim e não encontrarei; apenas o vazio estará lá: maior que hoje. E preocupo-me: porque não sei onde se podem ir buscar palavras, não sei se é possível obter e usar mais palavras que aquelas que nos dão à nascença (nascemos apenas com dois olhos, e assim temos de sobreviver; nunca ninguém pensou partir pelo mundo, em busca de mais olhos, por achar que dois são insuficientes).
Por vezes, gosto de imaginar que as palavras nascem nos ramos de uma árvore misteriosa, uma árvore milenarque existe desde o início dos tempos, que nunca morre (árvores que são, também, colunas: que de algum modo sustenta o mundo); gosto de imaginar que há planícies imensas serpenteadas destas árvores e que, por vezes, algumas pessoas podem passear-se entre elas e colher as palavras que desejam. Como meninos, brincando num laranjal, num fim de tarde de Primavera.
Também já houve alturas em que pensei: as palavras vêm do mar. Existiriam entre ondas, envolvidas pela água. Como bebés, nas placentas das mães. Nascendo, a todo o momento: formas invisíveis soltando-se com ternura da água, sacudindo a espuma, e flutuando nas costas do vento, por aí. A atmosfera estaria repleta delas, infinidades de palavras virgens, ansiosas por serem ditas, gritadas, segredadas; ou adiando o propósito da sua existência, o momento em que alguém as pega e, envolvendo-as na humidade da garganta, (outra placenta), extrai o som que é a sua essência, esvaziando-as.
Penso (pensar não consome palavras) muitas coisas, assim. E tenho pena de não poder falar nisto a ninguém, não ter as palavras necessárias em mim. Sinto-me deficiente: nasci com défice de palavras. (...) "


[Paulo Kellerman, 'Gastar Palavras - estórias - '
Das melhores acções que tive estes últimos tempos: comprar este livro. Bonito, mesmo, no melhor sentido da palavra.
Apresentação dia 22, no Mercado Negro, por Gonçalo M. Tavares.]



Porque a inspiração joga comigo às escondidas e a vontade com ela foi...

sábado, 24 de junho de 2006

Sabes, odeio o tempo.
...
Ele pega em nós ao colo, agarra-nos com força, e prende-nos à passadeira rolante, para que não possamos voltar atrás, nem recuperar o perdido ou nunca existido.
E, ainda por cima, brinca connosco, sim. Quando menos esperamos, zás! - vem ele e abre-nos o livro de memórias, bem à frente do nosso nariz, para que nenhum pormenos nos escape; e, ainda chega a ter o atrevimento de ligar a telefonia e deixar entrar o o toque fofo dos bolinhos da avó, acabados de sair do quentinho... ou o cheiro fresco daquela manhã azul e clara de um momento doce de uma vida a dois...
Somos marionetas presas nos dedos esguios mas forte do tempo. Se olhares com atenção, distingues nelas, nas suas mãos, as rugas de cada memória que aprisionou. Tem, por isso, as mãos calejadas, mas não menos fortes. Será isto a sabedoria?... experiência, sim. Maldade?... condição, limite.


Mão à cabeça, para esfregar o sítio onde doía. "André Topa-Tudo no País dos Gigantes", havia decidido saltar da prateleira sobre a minha cabeceira e fazer um cumprimento às minhas memórias....
Dizia assim na primeira página:

Comprado na linda
Livraria Lello, Porto,
em 10/Fev./98
Para a querida Maria João:
que o gosto pela leitura continue
a povoar os seus sonhos, a en-
riquecer o seu espírito, a
moldar a sua imaginação...
Um beijinho
Mãe
Sem dar conta, reportei-me para esse dia... Tinha adoecido e a minha mãe, lembrando-se da minha tristeza durante a sua ida ao Porto em visita de estudo, trouxe-me uma companhia. A melhor, talvez, ou aquela à qual dei mais valor - um livro.
Com essa vieram outras recordações de infância... e, atrás disso, um sentimento de nostalgia e evanescência. Senti-me crescida e afastada da felicidade ingénua e doce, que tão bem pauta o meu estádio petiz; pior que isso, senti que o tempo flui como a areia da praia que tentamos agarrar para por no bolso. Quanto mais apertamos, mais depressa ele escapa...
Naquela noite, quis ser criança de novo... poder correr, cair, rasgar o vestido, arranhar os joelhos, sem qualquer recriminação ou castigo...
A partir daquela noite, desejei não crescer mais - e foi ali que o tempo começou célere.

sábado, 3 de junho de 2006



O meu gato come chocolate.
E sorri... porque eu consigo acreditar em coisas impossíveis (nem tenho gato, nem muitos menos os gatos comem chocolates. Sorrir, sorriem, tenho a certeza!).
Sempre que desejo e esperanceio, o meu gato come chocolates. É muito guloso, o meu gato - sou uma incontrolável sonhadora.
Por vezes, o meu gato leva banhos de água fria, por comer muito chocolate. Mas, também, há dias em que ao comer chocolate, o meu gato consegue um lugar ao sol e aí se deixa a ronronar.
De que cor é o meu gato que come chocolate?... É roxo. Ah, e às vezes tem risquinhas verdes e bolinhas laranja... mas é só quando está ao sol.