terça-feira, 21 de novembro de 2006

Percorro este caminho, que à rotina se abraçou. E, ali mesmo, após a passadeira, escorrego num alçapão da memória, que me transporta até há uns mais de dez anos atrás.
Segura-me a mão um adulto e tudo me parece gigantesco: talvez pela dominância do verde em matizes, no relvado, à direita, na sebe alta, à esquerda; ou, ainda, pelos candeeiros, cujas bolas parecem suspensas, destacando-se de todo o elemento natural. Porque a minha altura é pouco maior do que os arbustos que separam o passeio do pequeno relvado, pela imensidão do céu que vislumbro, quando ergo a cabeça para respirar um pouco mais, pela pressa que dá corda aos meus pés, sinto-me pequena… Sinto-me pequena, mas continuo a caminhar, segura pela força da mão que os meus passos conduz.
Hoje, percorro este troço de caminho – o mesmo verde dominante, os mesmos candeeiros flutuantes, as mesmas árvores, maiores, agora.Curioso como, mais de dez anos depois e sem a mão da minha mãe e segurar a minha, invadida por um vazio interior tão presente, o mesmo passeio para a universidade continua a fazer-me sentir pequenina. Uma pequenez diferente, é certo – pequenez de quem pousa o olhar deambulante no manto retalhado de folhas amarelecidas pelo Outono, caídas no verde sujo da relva, e nelas se revê espelhada. Assim, partida, desfragmentada, caída de uns alicerces outrora fortes...
Assim deposta nua, fraca, desenraízada… Assim: quebrada.
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(A fotografia é do meu Amigo Adriano: whywhatBlog , whywhatDeviantArt.
.:A ti, Adriano, agradeço-te por teres cedido e autorizado uma das tuas bonitas imagens, para a ilustração do meu texto. Agradeço-te por muito mais, mas isso habitará sempre no abraço bom. [*] )

1 comentário:

Su(sana) disse...

Conforme o tempo passa, ficamos preenchidos e isso dita o nosso vagueio pela vida. Acontece tantas vezes passares exactamente por o mesmo caminho, pelas mesmas coisas e consoante o teu estado as vês de maneira diferente... estranho não é? Afinal os elementos são os mesmos, a pessoa é a mesma, porque é que não vimos tudo de igual forma? A isto se chama o estado de espírito.

Quero que passes por esse mesmo caminho, mas sintas a mesma felicidade que um dia sentiste.

[*]