E ali percebo: tenho o coração suspenso e a alma intermitente.
Preciso de ser reiniciada.
(o meu gato tem vontade de permanecer passivo-invisível. ninguém vem miar a este telhado...)
''Dentro de nós há o mesmo problema do ou ou e, mas acho que é ao contrário. Às vezes gostávamos que as coisas cá dentro fossem ou brancas ou pretas e os sentimentos estivessem, no coração, separados segundo as suas cores em gavetas diferentes. A vida seria muito mais simples. O problema é que, no coração, vem tudo misturado e cheio de es. Há coisas que parecem boas e são más enquanto que outras parecem más e são boas. Uma pessoa, se não tem cuidado, engana-se.
(...)
Não sei de onde vem toda esta agitação que nos atacou o coração e nos deixa como baratas tontas sempre à procura da metade que não temos e do sítio onde não estamos. Há quem diga que é feitiço. Acho que, antes de nascermos, alguém nos segredou baixinho que é possível sermos totalmente felizes. E acho que este segredo bom é culpa de não nos contentarmos nunca com o que já alcançámos e queremos sempre mais. Na maternidade começamos uma viagem, que ninguém mais pode fazer por nós, à procura duma praia que sabemos existir - embora só às vezes oiçamos ao longe o som das suas ondas - e se chama felicidade."
[O Príncipe e a Lavadeira - Nuno Tovar de Lemos, s.j.]
(Um livro descoberto em momentos bonitos, marcados pelo olhinho de estrelas e o coração quentinho. Daqueles que é sempre bom (re)ler, em dias frios e vazios - (re)lembrando-O e a Sua presença.)